A evolução e o trabalho gerencial

Fugindo um pouco do tema gerenciamento de projetos, mas permanecendo no mundo gerencial e penetrando um pouco na natureza humana, que a meu ver é um dos temas que devemos dar mais importância quando estamos "tocando" algum projeto, transcrevo abaixo um artigo de Jorge Raggi que versa sobre o assunto.

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O estudo de Darwin oferece possibilidades de conhecer e aprender a distinguir os comportamentos, principalmente os que não podemos mudar, para administrá-los melhor.

A Teoria da Evolução propicia entender os comportamentos que estão na nossa estrutura: a competição, a cooperação, a sedução, a traição e muitos outros. A completar 150 anos, a obra de Darwin vem sendo tema de mostras e congressos no mundo e no Brasil. A Universidade de Cambridge disponibilizou, neste ano, sua obra completa (http://www.hsm.com.br/editorias/gestaodoconhecimento/evolucao_trabalho_gerencial.php?redir=le&acai3_cod=17374177&url=http%3A%2F%2Fdarwin-online.org.uk), apresentando o autor à era do conhecimento.

Esses fatos reforçam o caráter inovador e atual de seus estudos sobre o comportamento das espécies, da nossa natureza humana. Darwin foi homenageado em vida por suas publicações em geologia, botânica e zoologia, mas não pela teoria da evolução, que só foi mais aceita nos meios científicos na década de 1940, com a Moderna Síntese.

Muito dos conteúdos investigados pode ser assimilado no trabalho gerencial que exercemos atualmente.

O foco deste artigo é exatamente este: evidenciar quanto podemos ganhar integrando a teoria da evolução à gerência. Darwin precisou ser um bom gerente. Ele nos surpreende, nos dias atuais, com sua capacidade de levantar dados, testá-los, replicar, organizar e trabalhar com colaboradores – em todo o mundo. Após a publicação do livro que o tornou famoso, "A Origem das Espécies", em 1859, foi preciso muitas lutas em um nível tal que chegou a levar um de seus defensores, T. H. Huxley, a ser chamado de “buldogue de Darwin”. Atualmente, ainda enfrenta muita rejeição pelo grande público, conforme atestam os quatro DVDs, Evolução, com 2 horas de duração cada, produzidos pela Scientific American e recentemente distribuídos nas bancas no Brasil.

A Teoria da Evolução é um princípio explicativo da nossa verdadeira realidade, como espécie (filogenia) e como pessoa durante uma vida (ontogenia). Darwin trabalhou estes dois vieses, e muito sobre comportamentos conscientes e inconscientes. Comportamento é um tema muito abrangente. Pode ser dos vegetais, dos animais, das rochas, do solo, do clima ou das águas. Neste sentido, a teoria da evolução é uma teoria de comportamentos. Pesquisar, observar, procurar, testar, replicar, para intuir hipóteses e continuar com novas pesquisas, é muito diferente de “achar que é”. É o aprendizado contínuo, e ele provou isto durante sua vida e com seus livros até os seus últimos dias . Uma das funções básicas do trabalho gerencial é cada um de nós, como gerentes, aprender a conhecer nossa realidade: talentos, limitações, comportamentos das pessoas com as quais nos relacionamos.

A tribo é uma empresa, as outras tribos estão em competição ou cooperação, como na vida e no trabalho. Em Animals and Plants under Domestication, de 1868, ele estuda como a natureza produz modificações, nossas limitações e nossas competências.

Em 1838, Darwin iniciou estudos e anotações nos seus cadernos de um livro que precisou de 34 anos de elaboração: A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, publicado em 1872.

Consiste na descrição dos fatos observáveis, nas inúmeras contribuições que recebeu ao redor do mundo. Apresenta seu método de pesquisa e a elaboração de testes para estudos de comportamentos e de ações, que podem ser aplicados ao treinamento gerencial. Uma das conclusões finais, sobre como lidar com emoções, na sua proposta de estudarmos para nos tornarmos conscientes de como as expressamos, é um bom exemplo.

Se agirmos sem um aprendizado consciente (com observações, testes de como somos, replicações para verificar se o que aprendemos é real), não conheceremos a profunda relação entre o que sentimos e como manifestamos exteriormente nossas emoções nas ações.

Em A Origem do Homem, de 1871, diz: “O progresso parece depender do concurso simultâneo de muitas condições favoráveis, demasiado complexas para que permita seu acompanhamento” (Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 2004 p. 113).

Não há fórmulas para o sucesso, e este não é replicável nas ações humanas, depende de muitos fatores, gerando complexidade, profundidade, interatividade, e inovação. Só podemos dizer que uma ação teve êxito quando esta concretiza. Nesse extenso livro, dedica mais da metade do texto à seleção sexual.

Uma das suas conclusões é: “O poder de fascínio do macho tem sido eventualmente mais importante para a sua evolução que a capacidade de derrotar seus pares nos combates pela fêmea” (Idem, p. 183). Assim, corrige o erro de não ter valorizado a importância da cooperação na evolução entre os animais e, em especial, desde o início da humanidade, acrescentando que nenhuma tribo cresce, quando o roubo e a traição são considerados normais.

Darwin, desde jovem já revelava seu talento para estudos e pesquisas do comportamento humano. Na passagem do “Beagle” pelo Rio de Janeiro, em 1832, com 23 anos de idade, registrou nos seus Diários um modo de ser brasileiro que perdura até os dias atuais: acreditamos sermos capazes de tudo agradar e tudo fazer, até a hora do vamos ver, quando criamos as inúmeras desculpas e justificativas. Durante sua estadia numa fazenda no Rio Macaé, escreveu sobre uma briga, onde o proprietário iria separar os homens e vender as suas mulheres e crianças num leilão público. Foi um outro interesse que surgiu e impediu a ação. E, assegura que era um homem que em humanidade e bons sentimentos era superior à maioria. “Pode-se dizer que não há limites para a cegueira advinda do interesse e hábitos egoístas.”

Menciona, a seguir, um caso, aparentemente sem importância, que o impressionou mais do que uma crueldade. Numa travessia de balsa, tentando se fazer compreender na companhia de um escravo, começou a falar alto, a gesticular e passou a mão perto do rosto dele. Este homem grande e forte se sentiu amedrontado, cerrou os olhos e baixou os braços para receber pancadas. “Este homem havia sido treinado para suportar uma degradação mais abjeta do que a escravidão do animal mais indefeso.” (O Beagle na América do Sul. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1996, pags. 16-22).

Nós podemos modificar comportamentos sociais, mas os que possuímos e que nos identificam como espécie ainda não temos condições de alterar.

O estudo de Darwin oferece possibilidades de conhecer e aprender a distinguir os comportamentos, principalmente os que não podemos mudar, para administrá-los melhor.

Podemos procurar as evidências da complexidade que sempre existiu - nós é que não tínhamos consciência. As vantagens competitivas das espécies e as estratégias das várias espécies. Quando uma espécie pára de evoluir, ela está propícia a desaparecer, o que acontece também às empresas.

A evolução, na natureza, não é para melhor, mas para crescer seu poder no ambiente. A Teoria da Evolução propicia entender os comportamentos que estão na nossa estrutura: a competição, a cooperação, a sedução, a traição e muitos outros. Há um grande potencial, ainda inexplorado, de compreendermos o que Darwin escreveu há mais de cem anos. Podemos efetivamente inovar na vida e no trabalho, se entendermos como evoluímos e como modificamos através dos tempos.

Darwin disse que as evidências da evolução estarão à nossa disposição, se decidirmos procurá-las.

Jorge Raggi - Este artigo foi extraído de um livro em publicação pela editora E-papers, do Rio de Janeiro, de minha autoria, com o título “Talento & Oportunidades: Sorte Gerencial – Uma Introdução à Gerência Evolutiva”. É uma proposta para o treinamento gerencial introduzindo os conhecimentos aplicados, principalmente de Darwin, Bertalanffy (teoria dos sistemas) e Piaget (teoria do conhecimento).

SCRUM

Atualmente muito se tem falado sobre Gerenciamento de Projetos, é uma profissão que está começando a ser muito solicitada pelo mercado.

Quando se fala em Gerenciamento de Projetos de software, o que utilizar?

PERT/CPM?

CCPM?

Em pequisa sobre o assunto, descobri que nos USA, na Europa e em algumas empresas do Brasil está "bombando" uma metodologia de Gerenciamento de Projetos de software chamada Scrum.

Scrum é um processo interativo e incremental para o desenvolvimento de produtos ou para a gestão de tarefas. A agilidade que suporta esta metodologia de gestão e
planejamento, traz uma nova dimensão na capacidade de resposta, adequabilidade,
eficácia e eficiência na gestão atual dos processos.

Achei uma notícia sobre o sucesso do Scrum no site Semana Informática e a transcrevo abaixo para que todos possam tomar conhecimento e dar sugestões.

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Scrum garante alta performance empresarial
De Claudia Sargento
Semana nº 892 de 18 a 24 de Julho de 2008

A metodologia permite desfrutar de elevada capacidade de resposta, adequação, eficácia e eficiência para desenvolvimento de projectos e do próprio negócioA metodologia permite desfrutar de elevada capacidade de resposta, adequação, eficácia e eficiência para desenvolvimento de projectos e do próprio negócio.

«Quando aplicado com sucesso, o Scrum traz uma nova dimensão na capacidade de resposta, adequabilidade, eficácia e eficiência da empresa». A opinião é de Mitch Lacey, gestor técnico de projectos na Ascentium Corporation, para quem «o Scrum cria equipas com alta performance que conseguem responder rapidamente às constantes alterações nas necessidades de um projecto e do negócio.»

Presente em Portugal, a convite da Fullsix e da Microsoft, para ministrar um conjunto de cursos no âmbito do Scrum, Lacey explicou que esta é apenas mais uma entre as cinco metodologias de princípios e praticas ágeis. É normalmente utilizada «para gerir o desenvolvimento de software mas pode ser utilizada para gerir qualquer processo complexo».

O foco do Scrum está no fato de se poder ter uma equipe a produzir um conjunto de funcionalidades «que estejam prontas para entrega no fim de cada sprint ou iteração». Como refere o responsável da Ascentium, a framework apresenta poucas regras e segue os princípios de «foco, respeito, compromisso, coragem e transparência».

Apresentada pela primeira vez em 1995 por Ken Schwaber e Jeff Sutherland, os seus conceitos básicos residem na habilidade para entregar software «mais rapidamente e com mais qualidade». Mitch Lacey considera esta metodologia é «muito interessante para muitas empresas e gestores, porque significa que as equipes podem focar-se em entregar primeiro as funcionalidades que trazem o maior valor para o negócio e realizar o retorno nesse investimento antes de implementar outras funcionalidades».

A metodologia é composta por um conjunto de práticas e papéis bem definidos, mas não inclui um guia para resolução de todos os problemas. De qualquer forma, deverá existir um Scrum Master, que garante a aplicação do processo e das regras, um Product Owner, que representa os interesses e a visão dos stakeholders, e uma equipe de projeto que executa e entrega o produto ou serviço baseado nessa visão. Durante cada sprint, «um período de duas ou quatro semanas», a equipe cria um incremento de funcionalidades que têm um grande potencial para serem entregues e utilizadas. No entanto, Mitch Lacey considera que, para implementar Scrum, «é preciso que a empresa, e em especial a equipe de gestão, tenha um compromisso com a mudança e aceite o custo da transição». Apesar de o Scrum poder ser aplicado a diversos tipos de projeto, «convém começar com um que tenha risco reduzido, datas de entrega flexíveis e tecnologia relativamente conhecida», lembra o gestor técnico de projectos. O Scrum faz transparecer os sucessos e insucessos no decorrer do projecto «permitindo que seja feita uma contínua inspecção, melhoria e remoção de impedimentos à concretização do projeto».

Em termos práticos, Lacey considera que «tem havido cada vez mais pessoas utilizando Scrum desde que ele foi inicialmente apresentado». Em 2003 foi criado o programa de certificação Certified Scrum Master, sendo que, desde essa data já foram certificados 30 mil Scrum Masters em todo o mundo, «tendo 4500 dessas certificações acontecido no primeiro semestre de 2007».

Entre as empresas que estão a utilizar Scrum, Mitch Lacey deixa os exemplos da Microsoft, da Fullsix, do Google, da IBM, da Siemens, da Nokia, da Philips, do Yahoo, da Accenture, da Motorola e da BRQ.

Em Portugal, os exemplos são a Novabase, a YDreams, a Outsystems ou o Grupo Portugal Telecom. Neste último caso, o Semana falou com José Alegria, director de Gestão de Risco Informático da PT - Sistemas de Informação (PT-SI) para tentar perceber o porquê da utilização da metodologia Scrum. José Alegria explica que há já vários anos que recorre aos princípios do Scrum «para gerir projetos que obriguem ao desenvolvimento rápido de produtos com elevado nível de inovação e onde seja fundamental garantir, também com rapidez, novas releases incrementais que respondam de forma ágil às oportunidades entretanto surgidas no público-alvo».

O responsável da PT-SI considera que esta «é uma das formas mais racionais de tornar tangíveis, em períodos de tempo fixos e relativamente curtos, projetos com requisitos voláteis».

No que diz respeito à experiência particular da equipe de José Alegria na PT Comunicações, «os princípios do Scrum mostraram-se essenciais ao desenvolvimento da plataforma Pulso de monitorização e análise do QoS, QoP e QoM de ecossistemas informáticos de suporte ao negócio». Este responsável acredita que «sem esses princípios teria sido impossível desenvolver tanta funcionalidade inovadora e verdadeiramente útil para o negócio em tão pouco tempo».

José Alegria diz ainda que a utilização de Scrum permite um feedback com os utilizadores «muito mais iterativo sendo, por isso, muito mais fácil corrigir trajetórias e dar maior prioridade às funcionalidades mais úteis». A ideia é simples: «Para o mesmo período fixo produzimos e pomos a funcionar a funcionalidade que faça mais sentido nesse ciclo de melhoria ou de enriquecimento funcional», explica.